Preocupo-me bastante com o modo como boa parte dos alunos se apresenta em sala de aula, diante deste processo intenso que é o de cursar o ensino superior. Um processo que é bastante exigente e rigoroso.
Nós professores, em nosso cotidiano, lidamos com as mais diversas especificidades em relação a demandas trazidas pelos alunos no dia-a-dia da faculdade:
O atraso na hora da entrada, porque trabalha longe..., o trânsito..., a chuva..., o problema no metrô.... etc...
A saída mais cedo da sala de aula, porque a região é perigosa..., vai perder o horário do último ônibus..., vai perder a carona..., o marido veio me buscar e está esperando......
A não leitura do texto da aula do dia, porque trabalha o dia todo..., de sábado também..., os filhos não deixam..., cuida dos netos de final de semana..., etc... etc...
Seminários mal preparados, empobrecidos, sem criatividade, porque não dá tempo de preparar..., não dá para encontrar o grupo para discutir o conteúdo, pois todos trabalham a semana toda...
Entrega de trabalhos mal formatados, porque não gosta de computador..., não quer aprender a mexer em máquinas porque não se dá bem com elas..., enfim...
Nós entendemos que o processo de ingresso no ensino superior, parte da escolha de pessoas adultas, portanto, capazes de avaliar todas as coisas que terão de abrir mão para alcançar este sonho. Sempre vamos abrir mão de alguma coisa, isso é fato e é para todos.
Afinal, quando somos estudantes, sempre chegamos àquele momento crítico: “Pular Carnaval” ou “Estudar”???
Uma grande amiga minha, me contou que quando estava em um curso de especialização em Gestão Pública, ela teve uma professora que, em um determinado momento da aula, já cansada com o mau comportamento dos alunos em sala, disse o seguinte: “vocês são os únicos clientes que eu conheço que compram um produto, pagam e não querem recebê-lo. Vocês compram o conhecimento, não querem ele, querem apenas o diploma, e o professor acaba sendo aquele que está atrapalhando tudo até que você chegue ao tão esperado diploma”.
De forma alguma, desconsideramos a realidade que, com certeza, pressiona a todos nós: as diversas atividades, a correria, a família, responsabilidades diárias, etc.
Mas, vamos pensar em alguns pontos importantes a serem considerados por aqueles futuros estudantes que não desejam ver o professor como aquele que está atrapalhando uma passagem que poderia ser mais suave e mais rápida pela faculdade. São pontos a serem considerados por aqueles que realmente desejam agarrar este sonho e vivenciá-lo com qualidade e motivação.
Avalie a proximidade da instituição de ensino de sua casa ou de seu trabalho. Ela está em uma rota que você faz com frequência? Ou você terá que se deslocar demais para chegar até lá?
O local selecionado te faz sentir seguro no trânsito noturno? Pense alternativas. Ir de condução pública é a melhor ideia? Se você tem carro, há lugares em conta onde possa estacionar, há vias permitidas para parar o carro? Visite o local à noite. Observe o movimento de alunos.
Pense que as atividades propostas durante o curso terão de ser feitas em horários disponíveis. O meu trabalho permite horário flexível para estudo? Caso não, tenho como disponibilizar meu final de semana para isso? Se preciso, antes de ingressar na faculdade, tenha uma reunião com a família e fale sobre o seu sonho e quanto eles ajudariam se pudessem reorganizar junto com você as atividades do lar para que você tenha um tempo para os estudos. O melhor é uma conversa franca e aberta a fim de chegarem a uma solução juntos.
Tenho consciência de que meus feriados, datas comemorativas e férias talvez tenham que ser aproveitados para estudar? Pense nisso e converse com namorado, namorada, marido, esposa... Para estudantes focados, estes espaços são essenciais para colocar as coisas em ordem, organizar os materiais, adiantar os trabalhos já solicitados...
Percebo que alguns conhecimentos prévios serão solicitados de mim para executar algumas coisas? Quais são minhas dificuldades e resistências? Meu Português está enferrujado? Não uso o computador com frequência? Que tal fazer um cursinho de reforço de Português ou Informática antes de começar a nova jornada? Valerá a pena?
As dicas acima não encerram, de maneira alguma, as várias coisas que você precisará pesar na hora de escolher começar uma faculdade. Por exemplo: é possível que a faculdade que fica na sua rota de trânsito não seja a mais em conta, não seja aquela que você tem condições financeiras para ingressar. Portanto, se vai optar por uma mais distante, leva em consideração que você terá de fazer mudanças na sua vida para não chegar atrasado a todas as aulas. E por vezes, o que se gasta de gasolina ou ônibus para ir tão longe, poderia estar sendo investido em uma universidade mais próxima.
Ou então, você sabe que precisa estudar Português e Informática, mas não tem dinheiro para fazer isso agora, já que vai entrar na faculdade com a possibilidade de bolsa. Certo! Então, saiba que você deverá acrescentar ao tempo que destinou aos estudos da graduação mais um outro tempo para estudar de forma autodidata o Português e a Informática. Nada é impossível! O que percebemos é que as pessoas têm muita dificuldade para se organizarem.
Ou seja, é uma questão de, realmente, parar para refletir e planejar.
Não deveríamos agir por impulso em nada na nossa vida. Somos capazes de avaliar e planejar as ações para que elas sejam bem feitas. Fazer a faculdade com a corda no pescoço, sufocado, fará com que você veja apenas desvantagens no processo da graduação. Vai fazer com que você pense o tempo todo que os professores exageram ou solicitam coisas desnecessárias, e daí a pressa de chegar logo ao diploma, sem querer realmente viver a graduação.
Pense bem! A passagem pela universidade deve ser agradável, alegre, feliz e sentida como um processo de transformação interna. Ao final do curso, com certeza você perceberá que saiu de lá uma outra pessoa e não, simplesmente, alguém portando um papel.