Toda vez que o aluno vive a disciplina de Metodologia da
Pesquisa Científica, na qual, além de aprender os tópicos importantes da
construção de uma pesquisa, ele também começa a montar seu projeto, tanto aluno
como professor experienciam vários momentos angustiantes.
O primeiro momento mais importante da construção do projeto
de pesquisa e, principalmente, o mais angustiante, é a escolha do tema que será
tratado.
Geralmente, o aluno confunde o que é assunto e o que é tema
e, quase sempre, ele aponta para o professor um assunto. Por exemplo: qualidade
de vida, relação profissional de saúde e paciente, câncer, tratamento da Aids,
gestão pública, etc.
Perceba que cada um dos exemplos acima apresenta um assunto
bastante amplo que tornaria uma pesquisa inviável. Imagine: pesquisar qualidade
de vida... De quem? Para quem? Proporcionada por quem? Projetos de qualidade de
vida? De que tipo? Resultados alcançados por projetos de qualidade de
vida?Enfim... Poderíamos ficar aqui horas listando uma porção de perguntas
sobre o grande assunto “qualidade de vida”, o que mostra que seria impossível
pesquisá-lo já que é inviável abordar todas as coisas que possam estar
relacionadas a este assunto em uma única pesquisa.
Quando definimos alguns parâmetros deste grande assunto, nos
aproximamos do tema de pesquisa. Exemplo: projetos de qualidade oferecidos por
empresas de telemarketing ao seus colaboradores.
Perceba que aqui ainda não ficou claro o que exatamente será
pesquisado sobre estes projetos de qualidade de vida (se quais são os tipos
mais praticados, se eles dão resultado ou não, se sobre quais os custos para as
empresas... Enfim, eu posso focar em qualquer coisa), mas já sei que são
projetos, que são ofertados por empresas, que são empresas de telemarketing e
que são ofertados aos colaboradores que trabalham nestas empresas. Aqui eu
tenho algo possível, pois projetos de qualidade de vida existem em vários
lugares, não só empresas, e em vários tipos de empresas, etc... Ou seja, eu
preciso reduzir o assunto a um campo mais controlado e palpável.
É a partir deste tema que eu conseguirei filtrar meu
problema de pesquisa (o que exatamente eu vou pesquisar) e posteriormente o meu
objetivo de pesquisa (o norteador para encontrar a resposta). É um exercício
que leva tempo para ser compreendido e toma a maior parte das aulas de
metodologia de pesquisa.
Sobre o definir o problema e o objetivo de pesquisa,
trataremos em outros posts aqui no site. Agora, gostaríamos de aprofundar o
como escolher o assunto e o tema.
Geralmente, o primeiro assunto trazido pelo aluno
relaciona-se àquilo que ele mais gostou no curso que fez. Sabemos que existe um
rigor e uma exigência de que os processos da pesquisa sejam neutros. Porém, é
impossível que um pesquisador seja totalmente neutro ao seu projeto. Primeiramente,
porque não concordamos com projetos onde o pesquisador não tenha nenhuma
afinidade, nenhuma identificação com o assunto. Muitas vezes, este aluno é
empurrado por um professor, para que pesquise um assunto que, na realidade, é
de interesse deste professor, e que este professor vê um potencial de sucesso
na abordagem daquele tema (às vezes, nem o professor gosta do tema, mas sabe
que pode render algo pelo momento que esta sendo pesquisado, por ser de grande
interesse da sociedade).
Nestes casos, o aluno não estará sendo estimulado pelo
prazer do pesquisar algo que gosta. Irá apenas cumprir as tarefas dentro dos
prazos chegando ao término, e, geralmente, sem um grande aprendizado, já que o
processo não foi significativo para ele.
Segundo, porque seja pesquisando algo que você gosta, ou
algo que lhe foi empurrado, você tenderá a compreender aquele objeto de estudo
através “dos seus óculos de pesquisador”. Isso significa que um mesmo objeto de
pesquisa pode ser abordado diferentemente por pesquisadores diferentes. Tudo
depende da área de formação do pesquisador, qual linha acadêmica segue, quais
são suas crenças, em quais abordagens se sente mais confortável, etc. Por
exemplo: um psicólogo comportamentalista não irá abordar a qualidade de vida da
mesma maneira que um psicanalista, ou que um administrador de empresas, etc.
Sendo assim, não há neutralidade em pesquisas e você não só pode
como deve pesquisar o assunto que gosta.
Na sequência, ao determinar o tema da pesquisa, vale a pena
não apenas seguir o seu gosto, mas ao, inicialmente, escrever seu primeiro
tema, pode ser interessante fazer um levantamento bibliográfico para conhecer o
que já foi pesquisado e publicado sobre isso. Muitas vezes, o tema que você
esboçou já está tão “manjado” que dedicar um tempo para pesquisar a mesma coisa
pela milésima vez não justifica cientificamente o pesquisador dedicar o seu tempo
para isso.
Ao determinar o tema é necessário se recordar que toda pesquisa
precisa ter uma justificativa científica, uma justificativa que explique o
porquê você vai dedicar 1 ano ou mais da sua vida nisso. Vai agregar algo para
área? É inovador? Está abordando o tema por um ângulo pouco explorado? Quais
contribuições a pesquisa trará?
Sendo assim, é preciso um equilíbrio entre aquilo que
gostamos e aquilo que vai fazer a ciência avançar. Não é isso o que queremos
com as pesquisas? Para que pesquisamos? Porque a faculdade obriga? Não.
Pesquisamos porque o conhecimento não é estático e acabado.
O conhecimento está em eterna construção e atualização. Trata-se de um
movimento constante.